Brasileiro fica à frente de Trump e Erdogan em votação promovida por entidade de jornalistas independentes. “Homenagem” se deve ao suposto envolvimento do presidente e seus filhos com o crime organizado e a corrupção.
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O presidente Jair Bolsonaro foi escolhido como a “Pessoa do Ano no Crime Organizado e Corrupção” de 2020, uma duvidosa honraria concedida todos os anos pelo consórcio internacional Projeto de Divulgação de Crimes Organizados e Corrupção (OCCRP, na sigla em inglês) que reúne organizações da imprensa independente e jornalistas investigativos.
“Eleito na esteira do escândalo da Lava Jato como candidato anticorrupção, Bolsonaro se cercou de figuras corruptas, utilizou propaganda para promover sua agenda populista, sabotou o sistema de justiça e travou uma guerra destrutiva contra a região amazônica que enriqueceu alguns dos piores proprietários de terras do país”, afirma a OCCRP em seu portal de internet.
Bolsonaro ficou à frente, por margem apertada, dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, além do oligarca ucraniano Ihor Kolomoisky. Este último, segundo o consórcio, emprestou mais de 5 bilhões de dólares de um banco controlado por ele próprio e fez o dinheiro – que equivale a 40% de todos os depósitos privados do país – desaparecer, distribuindo o montante em várias contas offshore.
“São populistas que causam enormes danos a seus países, regiões e ao mundo. Infelizmente, eles têm o apoio de muitos, o que é a chave para o populismo”, afirmou Louise Shelley, diretora do Centro para Corrupção e Crimes Transnacionais da Universidade George Mason, que foi uma das juradas na votação de 2020.
“Rachadinhas” e esquadrões da morte
No caso de Bolsonaro, a OCCRP afirma que ele, sua família e seu círculo mais próximo “aparentam estar atualmente envolvidos em conspirações criminosas e vêm sendo regularmente acusados de roubar da população”, segundo afirmou Drew Sullivan, editor do consórcio e também integrante do corpo de jurados. “Essa é a definição literal de uma gangue de crime organizado.”
Ao relacionar as supostas conexões de Bolsonaro com o crime organizado, consórcio destaca as investigações sobre práticas ilegais supostamente cometidas por seus filhos Carlos e Flávio, como as “repartições de salários” promovidas por ambos no exercício de mandatos eletivos, por exemplo, no célebre caso do escândalo das “rachadinhas”.
No caso de Flávio, a nota da OCCRP ressalta que ainda que o senador é acusado de administrar um esquema de corrupção que envolveria lavagem de dinheiro e fraudes, e menciona sua suposta ligação com esquadrões da morte que promoviam execuções sumárias, como no caso da vereadora Marielle Franco.
O presidente Bolsonaro, segundo a nota divulgada no portal de internet do consórcio, teria tentado impedir que Flávio fosse investigado, chegando inclusive a pressionar pela troca na diretoria da Polícia Federal.
Outro filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, também é citado por, supostamente, dirigir uma campanha de propaganda para promover a desinformação em meio à população. O consórcio também destaca a ligação do presidente da República com o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, preso por acusações de liderar um esquema de corrupção.
Putin, Duterte e Maduro também já foram “agraciados”
Entre outros líderes mundiais que já foram escolhidos em anos anteriores estão os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da Venezuela, Nicolás Maduro e das Filipinas, Rodrigo Duterte. Em comum, todos eles possuem um forte tendência ao autoritarismo e demonstram menosprezo a questões de direitos humanos e liberdades civis.
Em 2019, o escolhido como “corrupto do ano” foi o então primeiro-ministro de Malta Joseph Muscat, cujo governo foi acusado de envolvimento em uma série de negócios offshore suspeitos e de deixar a corrupção tomar conta do país.
Um de seus amigos pessoais foi preso como mandante do assassinato da jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia, que investigava a corrupção na pequena nação insular. Sua morte gerou comoção internacional e o caso acabou resultando na renúncia de Muscat em 2020.
RC/ots