Cinco dias antes de Lázaro Barbosa de Souza, de 32 anos, fugir do presídio de Águas Lindas de Goiás, em 2018, a Justiça do Distrito Federal havia ressaltado a necessidade de transferência do detento, “com urgência”, para uma das penitenciárias de Brasília. A informação consta em documentos obtidos pelo G1.
Lázaro é apontado como autor de um chacina que vitimou quatro pessoas da mesma família, no dia 9 de junho, em Ceilândia, no DF. Desde então, ele é procurado por uma força tarefa com centenas de agentes de segurança e, durante a fuga, invadiu diversas chácaras e fez uma série de reféns (veja mais abaixo). A operação entra no 12º dia neste domingo (20).
Lázaro foi para o presídio de Águas Lindas após ser preso na cidade, em março de 2018. Antes, estava detido no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), em Brasília, onde cumpria pena em regime semiaberto por roubos e um estupro. No entanto, não voltou de um “saidão”, em 2016, e desde então era considerado foragido.
Após a recaptura de Lázaro, a Justiça do DF determinou o retorno dele para um dos presídios da capital. A defesa do detento, no entanto, pediu que ele permanecesse na unidade de Águas Lindas, alegando que toda a família vivia na cidade, que fica a cerca de 50 quilômetros de Brasília.
Na época, segundo o advogado de Lázaro, a transferência para o DF dificultaria “sobremaneira as visitas do mesmo, haja vista que seu familiar mais próximo é sua mãe, esta já conta com seus afazeres, e deslocar-se até Brasília será extremamente difícil”.
Decisões judiciais
A solicitação foi negada pela Justiça de Goiás. Na decisão, o juiz citou a “caótica situação” da penitenciária de Águas Lindas que, naquele momento, abrigava 485 presos em um espaço para 133. No processo, o magistrado também lembrou que “o presídio local foi palco de várias fugas”.
Em junho de 2018, a Justiça de Goiás determinou o “imediato recambiamento” de Lázaro para Brasília, no prazo de até 30 dias.
No dia 5 de julho, a Justiça o DF determinou à então Subsecretaria do Sistema Penitenciária (Sesipe) a “adoção das providências necessárias para realização da transferência”.
Cela de presídio de Águas Lindas de Goiás, em imagem de arquivo — Foto: TV Globo / Reprodução
Cinco dias depois, a Justiça enviou um ofício para a Sesipe pedindo a realização da medida “com urgência”. Em 18 de julho, um novo pedido “urgente” para a transferência.
Em 23 de julho veio a notícia de que Lázaro havia fugido da unidade prisional.
O G1 questionou a Secretaria de Administração Penitenciária do DF sobre o caso, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.
Fuga em GO
Lázaro fugiu do presídio de Águas Lindas pelo teto do prédio. Ele foi o único dos cinco detentos que participaram da fuga que não foi recapturado.
A Polícia Militar de Goiás fez buscas pela região e Lázaro foi encontrado em 31 de julho, no setor de chácaras Quintas das Águas Bonitas. Ele estava em uma moto e fugiu quando viu as viaturas da polícia, conforme o boletim de ocorrência da época.
Na perseguição, Lázaro perdeu o controle da moto e caiu. Trocou tiros com policiais do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT) e fugiu para dentro de uma chácara.
Um helicóptero auxiliou nas buscas pelas matas, mas ele não foi mais encontrado.
Buraco no teto da cela aberto para a fuga de Lázaro Barbosa da cadeia de Águas Lindas de Goiás, em 2018 — Foto: Reprodução/Polícia Militar
Chacina e buscas
Agora, Lázaro é alvo de uma caçada que já dura 12 dias. As buscas tiveram início depois que ele invadiu a casa de uma família, no Incra 9, em Ceilândia.
Lá, matou o empresário Cláudio Vidal, de 48 anos, e os dois filhos dele, Gustavo Vidal, de 21, e Carlos Eduardo Vidal, de 15. Os três foram encontrados com marcas de tiros e facadas.
ENTENDA: o que se sabe e o que falta saber sobre chacina de família no DF
Cleonice Marques de Andrade, de 43 anos, está desaparecida — Foto: TV Globo /Reprodução
A esposa de Cláudio e mãe dos jovens, Cleonice Marques de Andrade, de 43 anos, foi sequestrada e encontrada morta três dias depois, próximo a um córrego na região.
Desde o início da fuga, Lázar já invadiu pelo menos 11 propriedades e fez uma série de reféns, no DF e no Entorno. Neste sábado, a força-tarefa fez um cerco na região de Águas Lindas de Goiás, depois que um morador da região disse ter visto uma pessoa suspeita entrando em uma gruta na área.
Outros crimes
Lázaro também reponde por um homicídio qualificado praticado na Bahia e outros assaltos com requintes de agressividade na capital.
Segundo os investigadores, o suspeito é considerado perigoso e “autor de crimes bárbaros”. Em 17 de maio deste ano, segundo a Polícia Civil, ele fez uma família refém na mesma região onde o casal e os dois filhos foram assassinados, em Ceilândia, e também ameaçou as vítimas com faca e arma de fogo. Durante o crime, ele mandou as pessoas ficarem nuas.
“Analisando os mandados de prisão dele, obviamente a gente conclui que é uma pessoa extremamente violenta e autor de crimes bárbaros. A brutalidade com que as pessoas foram assassinadas chama atenção”, diz a polícia.
Um laudo psicológico, feito em 2013, aponta que Lázaro é “um psicopata imprevisível”, acostumado a andar e dormir no mato.
Por Pedro Alves, G1 DF