Atos contra Bolsonaro têm apoio de novos partidos e público mais disperso nas ruas

Houve atos na pequena Tiradentes, em Minas Gerais, e também em Berlim, na Alemanha, em Tóquio, no Japão, e em Lisboa, em Portugal. O “Fora, Bolsonaro” foi ouvido tanto nas ruas da cidade mineira como na capital sede da Olimpíada. Os protestos contra o Governo de Jair Bolsonaro voltaram pela quarta vez este ano, com destaque para o Rio de Janeiro, Brasília e Recife, e especialmente São Paulo, que arrastou milhares de paulistanos a seguir em marcha da avenida Paulista até a praça Roosevelt, na região central. A Frente Ampla, que reúne centenas de movimentos e entidades populares, calcula em cerca de 600.000 pessoas nas ruas em mais de 500 cidades, mais do que no ato do início deste mês. O público, porém, ainda não fura a bolha da esquerda, apesar do apoio de partidos mais ao centro e direita.

Em São Paulo, a quarta manifestação em defesa do impeachment do presidente ampliou o espectro político do ato, mas não registrou um aumento do número de participantes, como esperavam os organizadores. Realizada dois dias após da notícia de uma suposta ameaça do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, de que não haverá eleições caso o voto impresso não seja adotado no País, a manifestação contou com 11 carros de som divididos entre 8 dos 15 quarteirões da avenida Paulista. Nas manifestações anteriores, houve 10 quarteirões ocupados por manifestantes.

Na avenida, a ideia foi evitar possíveis incidentes entre os militantes mais radicais de esquerda e outros grupos. O primeiro carro de som, estacionado próximo à rua da Consolação, reuniu desta vez as forças não alinhadas com a pauta dos partidos de esquerda: PSDB, PDT, Solidariedade, Cidadania e movimentos de renovação como Agora e Acredito. Membros destas agremiações dividiram o microfone com militantes do movimento de mulheres e contra o racismo, enquanto se viam bandeiras com o nome de Ciro Gomes no meio do público. “Ficamos muito surpresos com o ataque que um partido de esquerda fez ao PSDB na manifestação passada. Na hora que temos um inimigo em comum, que é o Bolsonaro, vem gente querer expulsar eles. Nós queremos frente ampla”, disse Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros e membro da executiva nacional do PDT.

© Eraldo Peres (AP) Manifestantes carregam cruzes e faixa que lembra o número de mortos na pandemia em Brasília.

Os militantes do Partido da Causa Operária (PCO), que atacaram militantes tucanos no último protesto na Paulista, montaram uma barraca em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), onde estava o carro de som que reuniu o maior número de manifestantes. “Essa direita não é bem vinda. Não houve uma deliberação sobre unidade com eles”, afirmou João Pimenta, do PCO, em conversa com jornalistas. Ele classificou como “um estupro” contra o movimento a participação do PSDB, mas negou que a agressão no ato anterior tenha sido patrocinada pelo partido. “O PSDB devia ir no ato do dia 12 (de setembro, convocado pelos grupos de direita MBL e Vem pra Rua)”, concluiu Pimenta.

O ato deste sábado também contou pela primeira vez com um caminhão de som que reuniu lideranças da Força Sindical, CUT e UGT. No solo, integrantes da Ouvidoria da Polícia Militar e OAB fizeram a mediação dos líderes com a PM para evitar conflitos. O secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, preferiu não fazer comparações numéricas entre os atos, mas celebrou a presença “unitária” das centrais. “O discurso radical afasta as pessoas”, disse ele ao EL PAÍS.Publicidade

defesa da democracia foi uma das bandeira dos organizadores, principalmente depois dos arroubos golpistas do presidente Bolsonaro ao ameaçar que não haveria eleições se não houvesse voto impresso. A Campanha Fora Bolsonaro, um dos organizadores dos atos, celebrou a capilaridade dos atos deste sábado —no dia 3 de julho, foram 312 cidades. Os atos, entretanto, ainda não desenham uma frente ampla que imponha mudanças de rumo na política nacional.

Sem a presença de nenhum presidenciável, as lideranças políticas mais expressivas que discursaram foram o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o líder do MTST, Guilherme Boulos (PSOL), que fez a fala mais inflamada. “Não vamos esperar sentados até 2022. O barco do Bolsonaro começou a afundar, e eles chamaram o Centrão para conduzir o barco. Logo ele que na eleição de 2018 dizia que era da fora da política e ia acabar com a mamata. Ele veio do esgoto da política”, disse Boulos. “Ele está ficando desesperado com as manifestações, com a CPI e a queda popularidade, e aí começa a ameaçar. Nós vamos trabalhar para que antes da eleição tenha impeachment. Para que em 2022 o Bolsonaro não esteja na urna, mas no Tribunal de Haia”, finalizou o líder do PSOL.

© AMANDA PEROBELLI (Reuters) Manifestantes mascarados chutam portão de loja em São Paulo.

Haddad aposta que os protestos ainda vão crescer com o avanço da vacinação. “O Braga Neto deve estar com medo do que vai acontecer a partir da semana que vem. Esse povo universitário, secundarista, quando esse povo estiver vacinado, vamos encher as ruas deste país. São 507 cidades unidas contra o Bolsonaro”, disse o ex-prefeito no microfone. Os partidos não levaram bandeiras com a imagem do ex-presidente Lula, mas ele estava estampado em camisetas e cartazes dos manifestantes. “Demorou para o Lula vir na manifestação”, cobrou a professora de inglês Emília Oliveira, 44, que levava um estandarte contra o presidente. “Estou protestando contra Bolsonaro, Mourão, Lira e os militares”, afirmou.

No final da manifestação, quando a passeata chegava ao centro, houve um incidente com a Polícia Militar. Segundo a corporação, “vândalos” presentes quebraram vidros do banco Itaú e tentaram retirar tapumes da Concessionária Hyundai, da Rua da Consolação. Houve uma explosão de bombas de gás lacrimogênio para dispersar o público.

EL PAÍS.

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