O Grito dos Excluídos assumiu o “Fora, Bolsonaro” como eixo principal de sua 27ª edição, realizada nesta terça-feira, 7 de setembro. Foi a primeira vez que a defesa da democracia entrou na pauta do movimento – que historicamente foca seus esforços no combate à miséria e no desemprego.
“Desta vez, a questão da defesa da democracia se impôs. Não sair às ruas seria um acovardamento. No futuro, seremos lembrados como parte dos setores que atuaram para impedir um golpe”, disse Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares.
Segundo Bonfim, o Grito dos Excluídos reuniu cerca de 300 mil pessoas em 200 cidades do Brasil e do exterior. No Vale do Anhangabaú, um dos maiores atos do grupo em todo o País, a manifestação começou oficialmente às 14h30, com um ato ecumênico e falas de representantes católicos, evangélicos e de religiões de matizes africanas. Sindicatos (ligados à CUT) e movimentos sociais também fizeram parte do evento. Os organizadores calcularam a presença de 50 mil manifestantes. Já a polícia falou em 15 mil.
© Taba Benedicto/Estadão Manifestantes protestam contra o governo de Jair Bolsonaro durante passeata do Grito dos Excluídos, na região central de São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não esteve presente ao ato. Aliás, Lula foi citado apenas no discurso do representante do PCO, que lamentou sua ausência e disse que “o jogo não está ganho”. Foi do PCO também a única crítica direta ao governador João Doria e à Polícia Militar.
Entre as figuras políticas de maior peso nacional que discursaram durante o ato estava a deputada federal e presidente do PT Gleisi Hoffmman; o ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado à presidência Fernando Haddad; e o líder do movimento sem-teto e candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos.
A contraposição entre o Grito dos Excluídos e a manifestação pró-Bolsonaro que ocorria simultaneamente na paulista foi uma constante nos discursos. A deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffmman, afirmou que as falas de Bolsonaro nesta terça-feira, em Brasília e em São Paulo são “um ato de desespero”. “Mesmo que tenha bastante gente (nos atos pró-presidente), o Bolsonaro fala apenas para a sua bolha. É um discurso dele para ele mesmo. A bolha bolsonarista não representa o Brasil”, disse.
Em seu discurso, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad disse que Bolsonaro “conseguiu dividir os brasileiros no dia da independência”. Haddad afirmou que no Anhangabaú estavam os defensores da democracia; enquanto na Paulista estavam defendendo a ditadura e o fascismo. “ Depois de 3 anos de destruição dos empregos, da vida e da esperança, o que essas pessoas estão fazendo na Paulista? Por que não estão aqui com a gente ?”, perguntou. Haddad acusou Bolsonaro de “defender a filharada” e afirmou que o dia do presidente responder na justiça está chegando”.
Na sequência, foi a vez de Guilherme Boulos discursar. Segundo ele, o 7 de setembro mostrou que “não vamos deixar a rua para eles” – referindo-se aos apoiadores do Bolsonaro . “Nós não temos medo de ameaças golpistas. O medo está do lado de lá. O medo é do Carluxo (Carlos Bolsonaro) que deve ser preso logo mais”, completou.
O ato contou com representantes dos principais partidos de esquerda. A manifestação foi encerrada às 17h, um pouco antes do horário previsto. Foi sugerido aos manifestantes que eles não andassem com adesivos ou bandeiras nas estações de metrô – para evitar confronto com apoiadores do presidente Bolsonaro. Apesar de denúncias sobre a presença de infiltrados no ato, o Grito aconteceu sem nenhuma ocorrência mais relevante.