Apesar de ser apontado como pré-candidato à presidência da República extraoficialmente desde que teve suas condenações na Operação Lava Jato anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no primeiro semestre do ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi anunciado oficialmente como pré-candidato na manhã de sábado, 7, em evento realizado em São Paulo, que também foi acompanhado por militantes e apoiadores de todas as regiões do país.
Com a presença de representantes de todos os partidos que compõem a aliança com a pré-candidatura de Lula à presidência, como o próprio PT, PSB, PCdoB, Solidariedade, PSOL, PV e Rede, além de centrais sindicais e movimentos sociais, o final do evento foi marcado por um discurso de mais de 40 minutos de Lula. “A partir de agora, se prepare que vamos percorrer esse país. E é proibido ter medo de provocações e fake news. Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorriso, paz e criando harmonia”, disse o petista, que presidiu o país entre 2003 e 2010.
Entre os temas abordados durante a fala, estavam as políticas públicas do período em que governou o Brasil, críticas à gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), defesa de alianças como a dele com o vice, Geraldo Alckmin (PSB), que discursou alguns minutos antes de forma remota, por estar com Covid-19, cooperação com países da América Latina e da África, combate à violência contra mulheres, LGBTs, negros e indígenas, fome, defesa das bolsas de fomento à pesquisa, investimento na cultura, preservação da Amazônia, conclusão das obras de transposição do rio São Francisco e resultado da Operação Lava Jato.
Uma das palavras mais repetidas por Lula durante o discurso foi “soberania”. “Defender a soberania é mais do que resguardar as nossas fronteiras, mas nossos recursos naturais e antes de tudo, garantir a soberania do povo brasileiro. Defender a alimentação de qualidade, os direitos trabalhistas, o acesso à educação”, disse o petista, que lidera as pesquisas. Ele afirmou ainda não ter ressentimento por não ter disputado a eleição de 2018, por ter sido condenado em segunda instância e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região – Porto Alegre), que manteve a condenação do então juiz federal Sergio Moro. “A tarefa de restaurar a democracia exigirá tempo integral. Não temos tempo para odiar quem quer que seja. Não faremos como nosso adversário, que disfarça sua incompetência brigando com todo mundo”.
Lula criticou Bolsonaro pelo que ele chamou de falta de sensibilidade em lidar com o atual momento do Brasil. “Nem todo governante é capaz sentir a dor alheia. Pode até se dizer cristão, mas não tem amor ao próximo”, alfinetou, ao dar como exemplo episódios de pessoas que reviraram lixo para procurar comida e as mortes por covid-19, que não foram repercutidas, segundo Lula, pelo atual chefe do Poder Executivo Federal. O petista alegou que não existe justificativa para existir fome no Brasil. “Somos o terceiro maior produtor de alimentos. Produzimos comida em quantidade mais do que suficiente”.
Ao questionar o aumento da gasolina, o pré-candidato à presidência pelo PT defendeu que as reservas do pré-sal devem estar à serviço da população, e também se disse defensor da Eletrobras, que tem sua privatização defendida pelo governo Bolsonaro. O atual governo também foi criticado por Lula no quesito infraestrutura. “Paralisaram obras que estão em andamento e se apropriam de outras que estavam praticamente concluídas, que é o caso da transposição do Rio São Francisco, que nosso governo fez 80% de todas as obras, mas eles tentam enganar o povo”.
Povos indígenas, segundo o discurso do petista, terão suas terras protegidas da ação dos garimpeiros. “Temos muito a aprender com os povos indígenas. É preciso garantir posses das terras deles, que foram capazes de cuidar delas melhor do que ninguém”. O pré-candidato do PT prometeu uma “revolução pacífica” e disse que o país precisa retomar o investimento em arte, cultura, ciência e pesquisa, os dois últimos através de maior fomento de bolsas como as da CNPQ, Capes e Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). “Precisamos da música e do cinema. Precisamos de livros, não de armas. A vida como ela é, e como ela poderia ser. A vida sem arte fica mais dura. Por isso, vamos apostar na cultura”, alegou.