A Bahia é um dos estados com o combustível mais caro do país. Com tantos reajustes em tão pouco tempo, fica até difícil ranquear a posição, por causa das constantes mudanças de preço. Em cinco meses foram 11 mudanças: sendo oito aumentos e três quedas.
Essa instabilidade nos preços pode ser atribuída a diversos fatores, sendo o principal deles a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Mas essa situação acontece só na Bahia? Se o estado possui uma refinaria, por que o combustível não é mais barato? Qual o impacto disso no bolso dos baianos? De que forma esses aumentos interferem na economia geral?
Para responder a essas perguntas, o g1 ouviu o presidente do Sindicato do Comércio de Combustíveis (Sinicombustíveis), Walter Tannus, e o economista Marcelo Andrade, mestre em Administração Estratégica e professor de Finanças Corporativas.
O g1 também convidou a Acelen, empresa criada pelo grupo árabe Mubadala Capital, que comprou a então Refinaria Landulpho Alves – atual Refinaria Mataripe –, mas a Acelen informou que não teria disponibilidade para participar do debate.
Walter Tannus considera que o principal vilão das instabilidades no preço do combustível, atualmente, é a guerra.
“Nós temos passado por um problema de apreensão muito grande, e de aumento não só do combustível, mas também dos gêneros de primeira necessidade. O maior culpado, se existe algum culpado, é a guerra. O mundo está passando uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia e isso tem contribuído bastante para a elevação do preço do barril do petróleo no mundo todo”.
Marcelo Andrade também avalia que a guerra dificulta a venda dos combustíveis a um preço menor. Ele aponta ainda a crise financeira causada pela Covid-19 como outro fator para a elevação dos valores.
“Esses reajustes criam uma dificuldade econômica muito grande, mas esse não é um problema isolado da Bahia. É um problema internacional, que eu atribuiria a fatores conjunturais, ou seja, de momento, e fatores estruturais, que já existem há mais tempo e que fazem parte da questão dos combustíveis. Do ponto de vista conjuntural existem dois fatores, o primeiro deles é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que modificou muito a cotação internacional do petróleo e tem interferido muito no preço, e a questão econômica ainda da crise da Covid-19. A Covid trouxe uma crise econômica, está trazendo ainda a inflação, problemas que tivemos e, em cima disso tudo está provocando também uma desvalorização do real, que perdeu muito peso em relação ao dólar”.
Apesar de reconhecer que o petróleo tem sido comprado mais caro, o Sindicombustível entrou com ação no Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, para entender o motivo da Acelen vender os combustíveis por um valor mais barato para outros estados.
“Nós não conseguimos entender como o diesel e a gasolina que são produzidos aqui no estado da Bahia cheguem no estado do Amazonas, no Pará, percorram essa distância toda e cheguem lá mais barato, R$0,30, R$0,40. Nós queremos entender o que leva uma empresa a agir assim. Nós entendemos que a privatização é boa para o estado da Bahia a médio e longo prazo, sabemos que a Acelen vem passando por dificuldades, comprando o barril do petróleo na mão da Petrobras a preço internacional, enquanto a Petrobras não reajusta o preço nas refinarias”.
O impacto atinge diretamente a economia em diversos setores, porque os combustíveis são usados na criação, fabricação e transporte de diversos produtos, como comida, remédios e outros materiais.
“Combustíveis são insumos fundamentais para toda a cadeia econômica do país, ainda mais no caso do Brasil que é um país com a malha de transporte no setor rodoviário. Toda a movimentação de produtos, bens, ficam na dependência do preço dos combustíveis, como um fato de formação do seu próprio preço. Por exemplo: os alimentos que chegam no supermercado e nós consumimos, também têm no preço deles os custos de transporte de logística e, tendo isso, à medida em que a gasolina e o diesel vão aumentando acima da inflação, isso vai gerando um movimento de aumento de preço, mesmo as pessoas consumindo menos”.