Na quinta-feira (1º), Dia Mundial de Combate à Aids, a revista Science publicou os resultados de um ensaio clínico que, embora pequeno, mostrou resultados positivos para uma vacina contra o HIV. Ainda em seu estágio inicial, o imunizante conseguiu provocar um componente de resposta imunológica em 97% dos participantes.
Essa reação ocorreu, pois a vacina experimental produziu no organismo humano os chamados “anticorpos amplamente neutralizantes” (bNAbs) do HIV. Ao mesmo tempo que essas glicoproteínas conseguem neutralizar várias cepas do vírus da AIDS, elas também são únicas, pois têm como alvo específico epítopos conservados do vírus. Epítopos são porções de antígeno cujas características físico-químicas facilitam o reconhecimento dos anticorpos.
Isso significa que os bNAbs são capazes de reconhecer uma grande faixa de subtipos de HIV, o que é imprescindível para produzir imunidade, uma vez que o vírus HIV sofre contínuas mutações. E foi o que ocorreu: os resultados mostraram a prova clínica de conceito para uma estratégia de priming a resposta imune, que é quando a dose da vacina apresenta antígenos (que estimulam a produção de anticorpos) pela primeira vez.
Fonte: Leggat et al./Divulgação.Fonte: Leggat et al.
Treinando o sistema imunológico
De uma população de 48 participantes do estudo, 36 receberam a vacina candidata e desses, 35 mostraram ativação das células B, que são as “fábricas de anticorpos”. Para gerar mecanismos de defesa, é necessário que essas células produzam uma linhagem do sistema imunológico, chamada “germinativa”.
Isso se processa através de um processo conhecido como evolução forçada ou maturação gradual, que é ativada por um esquema de vacinações múltiplas. De acordo com um dos autores do estudo, William Schief, professor de Imunologia e Microbiologia da instituição de pesquisa Scripps Research, a ideia é “treinar” o sistema imunológico para reconhecer múltiplas variantes de HIV.
Apesar dos resultados promissores observados, diz o professor, não é garantido que a vacina seja completamente eficaz. Daqui a um tempo, começarão os testes da Fase 2. À medida que as aplicações do imunizante ocorrerem, as moléculas se aproximarão cada vez mais dos HIV reais, até que os anticorpos resultantes possam se ligar a diferentes tipos do vírus. “É uma maneira totalmente nova sobre como elaborar uma vacina”, conclui Schief.