Imagine quantas histórias é possível vivenciar ao longo de quase oito décadas. O casamento de Maria Alves Ribeiro e Domingos Costa Silva, com 78 anos de união, é exemplo disso. Ela, com 93 anos de idade, e ele, com 97, celebraram as bodas de Benjoim ao lado dos 14 filhos e parte dos 58 netos, 89 bisnetos e 33 tataranetos em Boa Vista, Roraima.
Religioso, o casal credita a Deus todos esses anos de convivência. Mas, além disso, para eles, o segredo para a longevidade e bons frutos no matrimônio vai além do amor e da fé:
“É ter compreensão um com o outro. Ter diálogo, conversar. Se tem alguma coisa que não tá dando certo, vamos conversar porque esse negócio não tá certo. E a outra? É tem amor e cuidado no viver do dia a dia. Todo dia a gente ter diálogo, conversar”, resume dona Maria.
Domingos, que há 78 anos tomou a iniciativa de chamar Maria para dançar numa festa e acabou se tornando o parceiro de vida, complementa:
“Olha o segredo para nós vivermos muitos anos como nós vivemos, e estamos vivendo, graças a Deus, é a gente aprender. Aprender com a gente mesmo. Vai aprendendo respeitar o outro, a aceitar algumas coisas, porque aqui ou acolá tem uma coisinha qualquer, mas a gente tem que saber a ‘segurar ‘o outro”, diz ele.
Na festa dos 78 anos do casamento de Maria e Domingos, no início de setembro, 90% dos convidados eram integrantes da grande família e tinham algum parentesco com o casal. Foi na Páscoa de 1945 que eles se conheceram, no município de Bacabal, no interior do Maranhão.
Domingos, à época um jovem de 19 anos, sempre fazia compras no comércio da família de Maria e já tinha visto ela algumas vezes. Mas, na festa de Páscoa ele a convidou para dançar e partir dali iniciaram a história que ultrapassou gerações.
Na festa, ele a tirou algumas vezes para dançar. Do namoro para o pedido de casamento foi rápido. Ao saber que a família da amada iria se mudar pra outra cidade, Domingos pediu mão dela em casamento.
“Eu não fiquei com medo. Pedi ao pai dela e ele respondeu: ‘se ela quiser…’. Ele a perguntou, ela aceitou e nos casamos”, relembra Domingos.
O casamento aconteceu dois meses depois do pedido feito ao pai, em uma igreja católica Coelho Neto, cidade próxima a Bacabal. No ano seguinte, nasceu Raimundo Silva, primeiro dos 14 filhos que o casal teve, hoje com 77 anos. Raimundo, inclusive, também comemorou o aniversário de 57 anos de casamento no mesmo dia em que os pais.
A grande festa de celebração da união do casal estava programada para ocorrer em 2020, mas, precisou ser cancelada devido à pandemia da Covid-19. Mesmo com clube agendado, mesa e tudo organizado, foi preciso se resguardar e reorganizar. Neste período, nasceu a mais nova integrante da família – uma tataraneta, que atualmente tem 1 ano e 8 meses.
O casamento resistiu aos desafios. Um deles foi a mudança para Roraima, em 1978. Seu Domingos veio para o estado para trabalhar na agricultura, no município de Iracema, interior do estado. Durante este período, Dona Maria vendia cosméticos. Foi em Roraima que nasceu o 13º filho deles, Francisco Carlos, que atualmente tem 50 anos de idade.
Uma das netas do casal, a policial militar Raquel Fernandes foi a cerimonialista da festa. Orgulhosa dos avós, ela conta que a maior característica deles em família é serem carinhosos e conselheiros.
Como bons avós, adoram receber os netos em casa e passar o tempo conversando. Os netos, por sua vez, amam ouvir as histórias que eles têm para contar. “A vovó tem muitos princípios. Ela é uma senhora muito dócil. Sempre que eu tô com ela é um aprendizado diferente”, conta Raquel.
E tem um passo na rotina que dona Maria não abre mão: orar todos os dias com o marido. Devido à idade avançada, eles não conseguem mais ir à igreja. “O pastor vem na casa deles orar com eles, entregar a Santa Ceia. E toda tarde vem alguém ler a bíblia para ela”, conta a filha, Antônia Lindonete.
A união dos idosos é uma inspiração para os mais novos. O Caio, que é bisneto, tem 21 anos e está namorando. Para ele, a história dos bisavós é um exemplo que ele pretende seguir no relacionamento. “É um exemplo para todos os casais da família”, afirma.
E tanto amor se manifestam nas palavras que um diz para o outro. Quando perguntado para dona Maria o que o esposo representava para ela, ela nem titubeou. “Representa tudo na minha vida. É um marido e um irmão na fé. Estamos bem casados!”, enfatizou.
Por Rede Amazônica