Na reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a cúpula militar de seu governo, logo após o primeiro turno das eleições passadas, o ex-mandatário neofascista tentou apresentar um plano de golpe de Estado, conforme delação de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. Ao tomar conhecimento do teor do encontro, ainda segundo Cid, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, ameaçou dar voz de prisão ao superior hierárquico, por tramar contra a Constituição.
— Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo — avisou Gomes.
A reunião, segundo o depoente, ocorreu em 24 de novembro de 2022, no Palácio da Alvorada. O então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria sido o único a manifestar total apoio à iniciativa.
Derrota
O brigadeiro Carlos Batista, comandante da Aeronáutica, por sua vez, limitou-se ao silêncio diante da proposta de Bolsonaro. Segundo o delator, o comandante Freire Gomes sabia que o golpe não poderia dar certo.
— Freire Gomes sabia que os comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste (André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam. Além disso, os norte-americanos — civis e militares — já haviam dado fartas demonstrações de que não apoiariam — afirmou Cid à Polícia Federal (PF).
O escândalo eclodiu na mídia após a divulgação de e-mails da equipe de ajudantes de ordens da Presidência, que revelaram o encontro entre Bolsonaro, comandantes das Forças Armadas e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, apenas quinze dias após o segundo turno das eleições presidenciais, quando a derrota para o adversário petista, Luiz Inácio Lula da Silva, já estava consolidada.